A Tapada Nacional de Mafra (TNM) é uma floresta única, próxima da capital, com uma componente histórica muito forte, a par da imensa biodiversidade que encerra. Com 833 hectares, completamente cercada por um muro com uma extensão de 21 km, é por si só um projeto que merece um especial cuidado na sua conservação e a continuidade de um legado com mais de 275 anos.
É uma floresta madura, com uma grande biodiversidade, que chegou aos dias de hoje como um local ímpar para a sensibilização ambiental, divulgação e preservação do seu precioso património natural. Nos inventários faunísticos e florísticos, entretanto levados a cabo, estão já contabilizadas mais de 370 espécies, ainda claramente aquém da realidade. Assim, continua a haver lugar à necessidade de promover as ações de inventariação e investigação que tornem o seu conhecimento mais completo e permitam suportar e desenvolver as ações de gestão mais adequadas à sua preservação.
A TNM é ainda um espaço multifuncional que decorre da diversidade de valências presentes, posicionando-se simultaneamente como espaço de sustentabilidade, espaço de memória, espaço de turismo, de lazer e de aprendizagem.
A 7 de junho de 2019 viveu-se mais um marco importante na valorização deste património em todas as suas dimensões — cultural, histórica e ambiental. O Real Edifício de Mafra, constituído pela Tapada de Mafra, o Palácio Real, a Basílica, o Convento e o Jardim do Cerco, é inscrito na Lista do Património Mundial da UNESCO.
ESTA HISTÓRIA COMEÇOU EM 1747
A sua constituição remonta ao século XVIII, mais especificamente a 1747, ano em que, a mando do rei D. João V, foram compradas as terras para se constituir a Real Tapada, a qual veio a servir de área de lazer e caça para a corte, além de fornecer água, lenhas e produtos agrícolas para o Palácio e Convento de Mafra, obra central do reinado daquele monarca.
Podemos ainda hoje encontrar infraestruturas que dão nota da riqueza histórica da Tapada, como o sistema de adução de água que percorria cerca de 4.560 metros, incluindo um aqueduto, desde uma das zonas de maior “nascença” dentro da Tapada Real até ao Palácio Real, ou o edificado da zona do Celebredo, em que se destaca o Pavilhão de Caça do Rei D. Carlos.
A Tapada de Mafra é um espaço natural murado, rodeado por áreas agrícolas e urbanas, o que lhe confere características únicas que permitem uma gestão pouco influenciada por fatores externos, possibilitando a manutenção de condições excecionais para a preservação de espécies sensíveis. É assim um espaço único, caracterizado por ele próprio ser um ecossistema singular na Área Metropolitana de Lisboa, o que impõe a manutenção da sua biodiversidade através de ações projetadas e conduzidas com este objetivo.
A GESTÃO DE UMA BIODIVERSIDADE COMPLEXA E RICA
Na biodiversidade já inventariada, destacam-se espécies com estatutos de conservação mais sensíveis, como por exemplo a Águia-de-Bonelli e o Morcego-de-Bechstein, classificados “Em Perigo”, o que comprova que aqui estão reunidas as condições de abrigo, alimento e conservação que levam à sua fixação neste lugar.
Refiram-se também as três espécies mais emblemáticas da Tapada, o veado, o gamo e o javali, que habitam em áreas de floresta mista onde abundam os carvalhos-cerquinhos e os sobreiros, áreas de pinhal manso e pinhal bravo, áreas ripícolas formadas por freixos, várias espécies de salgueiros e choupos-negros, e áreas de matos ou de pastagem.
A vasta riqueza florística integra também três grandes monumentos naturais: um castanheiro-da-índia (Aesculus hipocastanum L.), uma olaia (Cercis siliquastrum L.) e um sobreiro (Quercus suber L.), árvores classificadas como de Interesse Público. O castanheiro-da-Índia e a olaia, terão sido plantados no reinado de D. Luis I, por ordem do seu pai, o D. Fernando II, sendo que o sobreiro tem uma idade estimada de 400 anos.
Toda a gestão florestal da TNM também tem em conta o aumento da disponibilidade alimentar para a fauna, em especial para os grandes mamíferos, o desenvolvimento saudável dos povoamentos florestais, a mitigação do risco de incêndios e o combate às espécies invasoras. Entre as diversas práticas florestais, fazem-se desramas e desbastes que permitem diminuir a competitividade entre indivíduos dos povoamentos, pela água, luz e solo. No que concerne à monitorização e gestão das galerias ripícolas, tem-se em conta que são o habitat de numerosos invertebrados e de grupos faunísticos que deles se alimentam.
Deste modo, as ações de gestão praticadas na Tapada assumem caráter recorrente e estrutural, são fundamentadas no conhecimento técnico-científico, têm um foco especial na conservação da biodiversidade, promovem o usufruto da mesma e são um importante instrumento de educação e sensibilização ambiental.
LOCAL DE FRUIÇÃO, CONHECIMENTO E APRENDIZAGEM
As várias tipologias de visitantes, desde as famílias aos grupos de seniores, passando pelos grupos escolares ou visitantes individuais, encontram na Tapada várias modalidades de visitação e fruição, que aliam momentos lúdicos a momentos de puro relaxamento em contato com a natureza, exercício físico, ou ainda oportunidades de aprendizagem numa convivência equilibrada com todo o ecossistema.
A oferta para fruição na Tapada Nacional de Mafra tem vindo a evoluir no sentido de uma aposta firme no cumprimento dos princípios da sustentabilidade. Realça-se a substituição do uso de veículos de motorização a combustível fóssil por viaturas elétricas, bem como o recurso a mapas e guias em formato digital (WebApp), permitindo ao visitante obter informação de forma fácil e intuitiva sobre a história, flora, fauna e geologia do local onde se encontra.
A Tapada Nacional de Mafra é também um espaço de criação de conhecimento. Entre outras atividades, são levadas a cabo várias ações de monitorização de espécies bioindicadoras, importantes auxiliares para a compreensão das dinâmicas ocorrentes em espaços biodiversos e de elevado valor natural. Essas ações são levadas a cabo tanto pelo corpo de técnicos interno, como por vários investigadores oriundos de várias entidades do sistema científico e tecnológico nacional.
Anualmente, é promovido e divulgado um programa pedagógico, com diferentes formas de visitação e temáticas adaptadas aos ciclos de aprendizagem escolar, onde o corpo docente encontra ferramentas para apresentarem ou consolidarem os vários temas lecionados nos respetivos currículos.
A marca “Tapada Nacional de Mafra” é cada vez mais sinónimo de biodiversidade, valorização do capital histórico, credibilidade, sustentabilidade e responsabilidade social da sua gestão, refletido na visitação de cerca de 187.000 pessoas de público em geral e de 80.000 crianças de todos os ciclos escolares, nos últimos cinco anos.
Pelas suas características e pela gestão prosseguida, a Tapada Nacional de Mafra foi recentemente reconhecida com a certificação “Biosphere”, como destino turístico sustentável, a qual reconhece que é promovida uma gestão alinhada com os 17 Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável definidos na Agenda 2030 das Nações Unidas.
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